A olho nu podemos enxergar cerca de 1000 estrelas no céu. Na antiguidade, essas estrelas mais brilhantes recebiam nomes próprios baseados na sua aparência (Sirius, de brilhante), na mitologia (Aldebaran, o seguidor) ou baseadas em sua utilidade para a navegação (Polaris, a estrela polar).
Com o surgimento dos telescópios e das técnicas de astronomia observacional, tornou-se inviável — e praticamente impossível — dar nomes próprios a cada corpo celeste descoberto. Só na Via Láctea, existem cerca de 200 bilhões de estrelas; e no Universo, devem existir centenas de bilhões de galáxias. Mesmo corpos celestes inusitados, como buracos negros, só na Via Láctea já descobrimos 50, e se tratando de pulsares, são cerca de 3.400!
Os astrônomos, então, elaboraram formas bem práticas de nomear os corpos celestes. Nesse artigo, descobriremos porque existem galáxias como NGC 1365, estrelas como HD 226868, pulsares como PSR B1919+21 ou galáxias como SDSS J120023.62–010600.3.
Nomes originados de catálogos observacionais
Com o avanço dos telescópios, muitos astrônomos passaram a catalogar os objetos celestes que observavam. Essa catalogação segue uma ordem numérica, sendo o significado dos números dos famosos catálogos Messier e NGC, que veremos a seguir.
Catálogo Messier
O astrônomo francês Charles Messier é considerado um dos pioneiros na catalogação de corpos celestes. Em 1781, ele apresentou a versão final de seu catálogo contendo 103 objetos celestes, no que ficou conhecido como o catálogo Messier — um dos mais conhecidos da astronomia. Posteriormente, esse catálogo foi ampliado para 110 objetos.
Essas nebulosas, aglomerados estelares e galáxias mais brilhantes observadas por Messier foram organizadas em ordem numérica, de M1 (a chamada Nebulosa do Caranguejo) até M110. Hoje, muitos desses objetos ficaram conhecidos pelo seu nome do catálogo, como no caso de Messier 87 (M87), a galáxia que rendeu a primeira imagem real de um buraco negro.
Catálogo NGC e IC
O catálogo NGC (New General Catalogue) foi criado por John Louis Emil Dreyer em 1888 para catalogar 7.840 galáxias, nebulosas e aglomerados estelares (de NGC 1 até NGC 7840). Posteriormente, em 1895 e em 1908, uma expansão desse catálogo foi publicada, chamada IC (Index Catalogues), para catalogar mais 5.386 objetos celestes. Esses milhares de corpos celestes foram organizados em sequência dentro desses catálogos, originando nomes como NGC 6543 ou IC 1101 — e permanecem conhecidos por esses nomes até hoje.
Muitos objetos também conhecidos pelo seu nome próprio estão nesses catálogos, como a Galáxia do Triângulo (NGC 598) e a Nebulosa de Órion (NGC 1976). Outras não possuem nomes próprios e se tornaram conhecidas apenas pelo seu número de catálogo, como a galáxia NGC 3982.
Catálogo Hendry Draper (HD)
O catálogo de Henry Draper foi publicado entre 1918 e 1924 como um enorme catálogo com 225.300 estrelas — o catálogo HD. Posteriormente, esse catálogo foi ampliado, originando o catálogo HDE (Henry Draper Extended), e hoje conta com 359.083 estrelas.
Ao contrário dos catálogos mencionados anteriormente, a ordem das estrelas nos catálogos HD/HDE é em ordem crescente de ascensão reta — uma das coordenadas celestes usadas para localizar objetos no céu.
Esse catálogo contempla estrelas de média e baixas magnitudes aparentes, como no caso de HDE 226868, a estrela supergigante azul que orbita o buraco negro Cygnus X-1.
Nomes originários de pesquisas científicas
Daqui pra frente, a quantidade de catálogos cresce tendendo “ao infinito”. Ao longo das últimas décadas, foram lançados vários satélites astrométricos com a meta de mapear o céu, como o 2MASS (Two Micron All Sky Survey), o SDSS (Sloan Digital Sky Survey), o Hipparcos e o Gaia. Esses objetos celestes mapeados por essas missões também foram registrados e receberam esses nomes diferenciados.
Catálogo Hipparcos (HIP)
O Hipparcos foi um satélite astrométrico que operou entre 1989 e 1993 com o objetivo de realizar um mapeamento preciso do céu. O fruto da pesquisa, o catálogo Hipparcos, foi publicado em 1997 e contempla a posição precisa de mais de 118.200 estrelas.
As estrelas recebem o prefixo “HIP” e contempla estrelas bem conhecidas, como Antares (HIP 80763), Deneb (HIP 102098) e Betelgeuse (HIP 27989). Assim como o catálogo HD, a ordem numérica crescente das estrelas é em ordem de ascensão reta.
Nomes originários de coordenadas celestes
Muitos desses catálogos também surgiram de pesquisas científicas de mapeamento, mas esses nomes são tão diferentes que exigem uma seção separada só para elas — e provavelmente o motivo pelo qual você está lendo esta matéria. Esses nomes são, na verdade, coordenadas celestes, como os das missões SDSS, 2MASS e WISE.
Assim como a latitude e longitude na Terra, o céu também tem coordenadas usadas para localizar objetos, que chamamos de ascensão reta e declinação. Os números nos nomes desses objetos, como WISE 1828+2650 ou 2MASS J09393548−2448279, são, na verdade, suas coordenadas celestes.
A ascensão reta é medida em horas, minutos e segundos, começando em 0h e terminando em 24h como uma volta de 360° ao redor da Terra. A declinação é medida em graus, arco-minutos e arco-segundos, com +90° no polo norte, 0° no equador e −90° no polo sul (por isso o nome pode ter um + ou um −).
Catálogo 2MASS, SDSS, WISE, Gaia, etc.
Apesar de diversas pesquisas renderem diversos catálogos (cada pesquisa ainda pode gerar vários catálogos, como o SDSS-II ou SDSS-IV), todas elas seguem o mesmo padrão: coordenadas celestes.
Por exemplo, o SDSS segue o padrão SDSS JHHMMSS.ss±DDMMSS.s, onde a primeira sequência são as coordenadas de ascensão reta e a segunda a declinação. A quantidade de números, ou seja, a precisão das coordenadas, depende da missão de pesquisa — por exemplo, alguns são apenas HHMM e DDMM, sem os segundos, como no caso da WISE (Wide-field Infrared Survey Explorer).
A letra J significa que as coordenadas são padronizadas na época J2000, ou seja, a posição dos astros é normalizada no dia 01/01/2000 do calendário juliano.
Por exemplo, o buraco negro supermassivo SDSS J140821.67+025733.2 está nas coordenadas 14h 08m 21.67s de ascensão reta e +2° 57′ 33.2″ de declinação. É só apontar um telescópio para essas coordenadas que o objeto estará lá.
Vamos a um exercício prático. O primeiro pulsar descoberto se chama PSR J1921+2153. Você consegue identificar o que esse nome quer dizer em termos de coordenadas?
Vai pensando…
Sim, é um pulsar localizado na ascensão reta 19h 21m e na declinação +21° 53′.